É a dexametasona um fator de progressão da perda óssea na doença periodontal induzida por ligadura?
Dentista,
Farmacêutico, Mestre em Patologia Bucal (UFRJ), Doutor em Patologia Bucal
(FOB/USP), Ex-aluno do Instituto Goethe (Alemanha), Ex-Servidor Público
Federal.
Tel:
555532216763
Artigo discutido:
The effect of dexamethasone in the pathogenesis of ligature-induced periodontal disease in Wistar rats
Efeito da dexametasona na patogênese da doença periodontal induzida por ligadura em ratos Wistar
Juliano CavagniI; Ana Cristina SolettiII; Eduardo José GaioIII; Cassiano Kuchenbecker RösingIV
IDDS – School of
Dentistry, Lutheran University of Brazil
IIMS – School of Dentistry, Lutheran University of Brazil
IIIDDS – School of Dentistry, Federal University of Rio Grande do Sul
IVPhD – School of Dentistry, Federal University of Rio Grande do Sul
Comentário
Revisando a minha tese de doutoramento, realizada na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP), em que estudei os efeitos da dexametasona em granulomas induzidos por placa dental bacteriana, concluí que tanto o tenoxicam quanto a dexametasona podem ser utilizados na terapia regenerativa. Contudo, deparei-me com o trabalho da professora da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (URGS), cujos resultados demonstram que a dexametasona contribui para aumentar perda óssea na doença periodontal induzida por ligadura, já aos 7 dias.
Discordo desse resultado, porquanto a cultura de células periodontais, em presença da dexametasona, após 7 dias, evidenciou o aumento da atividade da fosfatase alcalina, indicativa da presença de células osteoblásticas e de neoformação óssea.[6]
Como os resultados de meu estudo, para o emprego da dexametasona - na dosagem terapêutica convencional (4mg/dia) -, apontam, justamente, na direção oposta à conclusão de Rösing e cols (2005), discutirei, os aspectos contrastantes, comparando-os, principalmente, com os recentes relatados da literatura.
Inicialmente, discordo da afirmação de que a análise histométrica realizada em computador é mais acurada do que análise histomorfométrica realizada sem o seu auxílio. Existem estudos que comprovam ser esta diferença estatisticamente não significativa (p >0.05), a despeito daquela ser mais cômoda.
A diferença entre os estudos é causada, tão-somente, pelo número total de pontos avaliados; variável de acordo com o número de campos microscópicos e de animais estudados, porquanto não há diferença estatística, quando são avaliadas somente as secções das região central, ou as secções das regiões mesial e distal do defeito, utilizando-se secções seriadas tri-dimensionais.[1]
Em outras palavras, o número de secções ou o padrão (modêlo) da perda ou de regeneração óssea têm pouca importância nesse tipo de estudo.Considerando que foram analisados 4 períodos experimentais, parece-me que o estudo poderia ter sido realizado com somente 24 animais (12 por grupo). Outrossim, objetivando analisar, a reprodutibilidade das avaliações, seria mais acurado estudá-la interpessoalmente.
Empregando histometria, e analisando a análise estatística dos resultados, confesso, que não vislumbro o porquê do estudo da reprodutibilidade intrapessoal, considerando que um elevado grau de correlação é óbvio, mesmo a avaliação tendo sido inacurada nas duas avaliações.
Também não identifiquei qual a razão do sorteio com a moeda, na distribuição do ratos em dois grupos. Se não estou enganado, acredito que não haveria diferença estatística significativa se separássemos, para a formação desses grupos, aleatoriamente ratos de peso médios semelhantes. Contudo, os autores não informaram como foram selecionados os campos microscópicos avaliados, se por amostragem casual ou sistemática. Isto sim, pode ter interferido nos resultados.
Também não concordo com a conclusão de que o uso sistêmico da dexametasona estaria associado à acentuada perda óssea - na doença periodontal induzida por ligadura -, pois na dosagem empregada no tabalho de Rösing, que excede a dosagem indicada como auxiliar no tratamento da doença periodontal, na qual, o emprego da dexametasona tem sido associado à diferenciação dos osteoblastos e ao estímulo da formação óssea.[2]
Ademais, foi demonstrado que os macrófagos, em áreas de reabsorção óssea ativa, por sintetizarem e secretarem várias citoquinas, fatores de crescimento e produtos do ácido araquidônico, tais como as prostaglandinas e leucotrienos, são hábeis para modular o processo de reabsorção ósseo pelos osteoclastos via osteoblastos, cujo mecanismo envolvido pode ser a ativação da proteína G, via fosfolipase C, causando aumento do inositol trifosfato (IP3) e de cálcio citosólico.[3] Como foi demonstrado por nós, a dexametasona causou a inhibição da densidade de volume ocupada por macrófagos, indicando tanto a inibição da proliferação das células mielóides progenitoras quanto a sua posterior diferenciação e migração.
Portanto, parece lógico inferir que a dexametasona, também, por inibir as duas vias metabólicas do ácido aracdônico (ciclo e lipooxigenase), bloqueando a geração da IL-1 e de outros fatores estimuladores da reabsorção óssea, diminui a perda óssea na doença periodontal induzida por ligadura, tal como foi demonstrado por Breivik e cols. (2006),[4] contrariando a conclusão de Rösing e cols. (2005).
Olho, também, com estranheza o resultado reportado aos 30 dias, considerando que era esperado um aumento da massa óssea, ou uma diferença estatística não significativa (p>0.05) para o grupo controle, porquanto, nesse período experimental, tem sido reportada a resistência dos fibroblastos à administração prolongada da dexametasona, podendo ser explicada, pelo menos em parte, pela inibição induzida pelos glugocorticóides a ativação da COX-2 e a produção do inibidor da síntese de DNA, PGE2.
[5]Outrossim, discordo de que a dexametasona aumente o potencial de infecção; pelo contrário, na dosagem terapêutica convencional, ao inibir a síntese de PGE2, decresce a imunosupressão por ela induzida.[7] Além disso, recentemente, em ratos, foi demonstrado que, efetivamente, suprime a resposta para o ACTH, não somente prevenindo a imunosupressão, como também a resposta imune estimulada,[8] cujo mecanismo tem participação na patogênese da doença periodontal.
Para exemplificar a filosofia utilizada na realização desses trabalhos, reporto a conversa com o meu ex-colega de doutoramento no porco departamento de patologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB/USP); atual chefe do Curso de Pós-Graduação em Patologia Bucal na porca Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FO/URGS); e professor da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUC/RS), professor dr. Pantelis Rados Varvakis; oportunidade em que, após constatar a mediocridade de sua tese doutoramento, orientada pelo professor dr. Alberto Consolara - um dos maiores educadores do nosso país -, tentei convencê-lo de que o "parto era prematuro", "prematuríssimo", segundo outros; a que me respondeu: "Antônio! Isso é coisa de cientista. O importante é defender logo, obter o título de doutor pela USP, o credenciamento da CAPES, a gratificação no salário e pagar o "leitinho" (bolsas de estudo) das crianças no final do mês". É isso aí.
O texto continua
Referências Bibliográficas
1. Koo KT, Polimeni G, Albandar JM, Wikesjo UM..Periodontal repair in dogs: analysis of histometric assessments in the supraalveolar periodontal defect model. J Periodontol. 2004 Dec;75(12):1688-93.
2. Beloti MM, Rosa AL. Osteoblast differentiation of human bone marrow cells under continuous and discontinuous treatment with dexamethasone. Braz Dent J.
. 2005;16(2):156-61.3. Schütz, AB Estudo comparativo do mecanismo de ação e dos efeitos farmacológicos do tenoxicam, indometacina, dexametasona e metotrexato no processo inflamatório agudo e crônico. Bauru, Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo {FOB/USP}, 1996, (Tese de Doutorado), p.38-58.
4. Breivik T, Gundersen Y, Osmundsen H, Fonnum F, Opstad PK. Neonatal dexamethasone and chronic tianeptine treatment inhibit ligature-induced periodontitis in adult rats. J Periodontal Res. 2006 Feb;41(1):23-32.
5. Vlahos R, Stewart AG.
Interleukin-1alpha and tumour necrosis factor-alpha modulate airway smooth muscle DNA synthesis by induction of cyclo-oxygenase-2: inhibition by dexamethasone and fluticasone propionate.Br J Pharmacol. 1999 Mar;126(6):1315-24.6. Kuru L, Griffiths GS, Petrie A, Olsen I.Alkaline phosphatase activity is upregulated in regenerating human periodontal cells.J Periodontal Res. 1999 Feb;34(2):123-7.
7. Pockaj BA, Basu GD, Pathangey LB, Gray RJ, Hernandez JL, Gendler SJ, Mukherjee P.Reduced T-cell and dendritic cell function is related to cyclooxygenase-2 overexpression and prostaglandin E2 secretion in patients with breast cancer. Ann Surg Oncol. 2004 Mar;11(3):328-39.
8. Cheido MA, Idova GV. Effect of dexamethasone on immune response of mice with different behavioral types. Bull Exp Biol Med. 2005 May;139(5):590-2.
Is dexamethasone a
factor of progression of the loss bone in the periodontal disease induced by
ligature?
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